Usando um cenário bastante usual, o autor escolheu trilhar pelas distopias e o que parecia somente mais uma entre tantas, Chris provou-se estar passos à frente das demais.

 
Título: Mundo Novo
Autor: Chris Weitz
Tradutor: Álvaro Hattnher
Páginas: 328
Ano: 2014
Editora: Seguinte
ISBN: 9788565765473
Avaliação:   | Ótimo.
Sinopse: Neste mundo novo, só restaram os adolescentes e a sobrevivência da humanidade está em suas mãos. Imagine uma Nova York em que animais selvagens vivem soltos no Central Park, a Grand Central Station virou um enorme mercado e há gangues inimigas por toda a parte. É nesse cenário que vivem Jeff e Donna, dois jovens sobreviventes da propagação de um vírus que dizimou toda a humanidade, menos os adolescentes. Forçados a deixar para trás a segurança de sua tribo para encontrar pistas que possam trazer respostas sobre o que aconteceu, Jeff, Donna e mais três amigos terão de desbravar um mundo totalmente novo. Enquanto isso, Jeff tenta criar coragem para se declarar para Donna, e a garota luta para entender seus próprios sentimentos - afinal, conforme os dias passam, a adolescência vai ficando para trás e a Doença está cada vez mais próxima. 

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Fãs de distopias por aqui? A onda de livros do gênero de distopias e aqueles onde a trama envolve um cenário pós-apocalíptico tem invadido às prateleiras nacionais. Entrando nessa onda, a Editora Seguinte que até então não havia publicado nenhuma delas, resolveu publicar no Brasil Mundo Novo. Diante de tantas já publicadas, primeiramente achei que talvez seria só mais um dos infindos publicados do gênero, mas depois de ler um pouco mais a sinopse senti que era um volume com potencial diferente e poderia proporcionar grandes surpresas, então resolvi dar uma chance.

Uma Doença assolou toda a população adulta do planeta. Passado dois anos da grande tragédia, os jovens de Nova Iorque tem vivido em tribos, grupos de jovens que tem tentado sobreviver à todo custo mas eles perceberam que não é e continuará não sendo uma tarefa fácil. Na tribo Washington Square é liderada por Wash, mas amanhã ele fará dezoito anos e a Doença fará dele mais uma vítima. Seu irmão, Jeff terá que tomar seu posto de líder. Um dos integrantes da tribo agora comandada por Jeff, encontra um vestígio de algo que poderá levá-los até uma cura. Isso seria fácil se eles não tivessem que partir imediatamente em uma viagem que oferece várias ameaças e perigos inimagináveis. Quando eles partem, Donna resolve ir junto, afinal ela prometeu a Wash proteger Jeff. Mesmo rodeados de aventura, Jeff só consegue pensar em uma forma de declarar seu amor por Donna, antes que seja tarde demais.
Eu já matei antes. Mas não tão de perto. A intimidade é doentia.
Em capítulos narrados de maneira alternativamente entre Donna e Jeff, os protagonistas da trama, Jeff mostra-se um personagem responsável que teve de assumir responsabilidades antes impostar ao irmão e responsabilidade é algo raro entre jovens até no dias de hoje, imagine em um mundo pós-apocalíptico. Por mais que o Ocorrido tenha feito com que todos se tornem um babacas, viciados em sexo ou até mesmo algum tipo de assassino sanguinário, Jeff é um garoto inseguro, piedoso e em relação a Donna, um pouco acanhado, mas isso não quer dizer que ele fuja das suas responsabilidades ou não saiba se impor quando necessário. Se tem alguma palavra que descreve bem a personagem Donna, é foda. Eu sei, não é de costume usar palavrões aqui nas resenhas mas o livro tem muito disso e é exatamente o que a protagonista é, foda. Ao mesmo tempo que ela é forte, inteligente e perspicaz, ela também tem atitudes impulsivas, diz aquilo que vem a cabeça e está sempre disposta a lutar. Talvez você pense que, de uma forma muito bizarra, os dois foram feitos um para o outro.

A narrativa do autor assume pontos super positivos, mas quero destacar três pontos que mais me chamaram a atenção: 1) escrita clara, deixando tudo muito bem definido e explicado; 2) faz citações de cultura pop; e 3) sabe dosar o mistério ao longo do enredo. Chris consegue deixar tudo totalmente convincente, desde o por quê da Doença atacar somente adultos, até onde e como começou a Doença e se um dia ela terá uma cura. Na escrita, o autor também faz o uso de citações de cultura pop ou hábitos entre os jovens, como a compra deliberada de iPhones, sagas literárias e cinematográficas como Jogos Vorazes e Star Wars e a alimentação baseada em besteiras como o bacon, e esse ponto fez com que eu me aproximasse mais dos personagens porque é impossível você não se identificar com os mesmos gostos que eles, ou se você imaginar-se dentro de um mundo desses, provavelmente você sentiria falta dessas mesmas futilidades. Chris também consegue dosar na medida certa as descobertas e explicações sobre o que aconteceu com o mundo, se atendo ao presente e conduzindo os personagens para que a própria trama revele ao leitor e ele mesmo monte o quebra-cabeça.

Outro ponto que não posso negar são as cenas cheia de ações. Você começará a esquivar-se porque todo momento tem uma facada, um tiro, um chute e isso faz com que a leitura não se torne pacata ou deixe cair o ritmo da mesma. Dificuldades, limitações e barreiras surgem a todos os momentos, mas geralmente são esses problemas que trazem vida à história. Ponto que diferencia esse livro das demais distopias é a ausência de um governo abusivo. Desta vez, as ameaças provém das outras tribos e, muitos vezes, deles mesmo e outros que jamais imaginamos.
Só é o fim do mundo se você não acreditar que existe um futuro.
Erros estúpidos acontecem e bem, fui ver quantas páginas tinha o livro e acabei lendo o final. Não faça isso! A última frase revela um spoiler grande então não leia. Por já ter lido esse spoiler, achei que talvez o desfecho da trama não pudesse me surpreender e que o impacto do final fosse ser bem menor do que o esperado, e mais uma vez o autor provou que eu estava errado. Definitivamente, eu não esperava um final daqueles. Mesmo já tendo lido a última frase, eu não esperava algo um desfecho incomum como aquele e mal vejo a hora de poder ler o segundo.

Usando um cenário bastante usual, o autor escolheu trilhar pelas distopias e o que parecia somente mais uma entre tantas, Chris provou-se estar passos à frente das demais. Personagens interessantes, uma narrativa envolvente e uma trama muito bem construída, ele surpreendendo o leitor trazendo um mundo devastado, mas que neste momento surge uma luz de esperança. Mundo Novo é o primeiro de uma trilogia distópica que é escrita pelo americano Chris Weitz, o segundo livro ainda não foi publicado mas tem previsão de lançamento para o próximo ano.

SOBRE O AUTOR
Chris Weitz nasceu em 1969 na cidade de Nova York. Formou-se em literatura inglesa pelo Trinity College, e trabalha como produtor, roteirista e diretor de cinema. Junto com seu irmão, Paul Weitz, dirigiu e escreveu o roteiro do filme Um grande garoto (2002), baseado no livro homônimo de Nick Hornby e indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Chris também dirigiu A bússola de ouro (2007) e Crepúsculo: Lua nova (2009).

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